“Ele chegou aqui e queria mudar muitas coisas, como a questão de música
no vestiário. No Brasil, o vestiário é pagode, samba... Ele chegou e se
assustou. Para ele, vestiário é concentração. Aí, eu falei com ele que vamos
mudar, mas devagar (risos). Hoje, ele está mais ponderado. Mas se você pegar o
que ele fala, tem nexo. A ordem, a questão de rouparia, o horário, a tática...”
– Jefferson, goleiro do Botafogo, comentando a postura e a cultura esportiva de
Seedorf.
Creio que o comentário
de Jefferson e as manifestações de Seedorf são contributos importantes para se
perceber um pouco mais porque é que o futebol europeu tomou conta do palco
mundial e porque é que o futebol do país de Garrincha e Pelé, entregue ao
desleixo esportivo e às escandalosas proteções a certos clubes, entrou em
decadência apesar de continuar a produzir atletas de grande qualidade (alguns
dos quais, como Jobson, fazendo da sua vida aquilo que todos nós sabemos) e de
ter sido um brilhantíssimo campeão do mundo que reinventou o futebol entre
finais da década de 1950 e o início da década de 1970.
Quando os
botafoguenses tiverem um presidente, um diretor de futebol e um treinador que
formem uma tríade sólida exclusivamente virada aos interesses do Botafogo e que
sejam capazes de impor ordem e disciplina em vez de facilidades, ética e
dedicação em vez de gente que apenas se quer mostrar na vitrina do Glorioso,
muito treino e moderação na vida social em vez de rachões e noitadas, muito
esforço e devoção em vez de moleza e descaso, muita cobrança de empresários e
contratação de ‘olheiros’ para o clube em vez de compras por vídeo e por
conversa mole, então talvez tenhamos um Botafogo capaz de subir ao palco
futebolístico do país e do mundo.
Enquanto isso não
acontecer, os títulos importantes passar-nos-ão ao lado e continuaremos a viver
na periferia de um núcleo que entrega os títulos aos clubes das suas
preferências…
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